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Pílulas de História: Maite Amaya e militância LGBTQIA+ na Latinamérica

Junho, além das festas populares, marcou para nós a celebração do orgulho LGBTQIA+. Sabemos que, entre as garrafadas de 28 de junho de 1969 no bar Stonewall e o lamentável fortalecimento da moral fascista nos últimos anos, o movimento se enraizou e manteve a resistência em vários lugares do mundo. No entanto, também se fortaleceu a incorporação da pauta pelo capitalismo, seja através de mais representação em produtos da cultura pop, seja através do estímulo à segregação das identidades que se afunilam em nichos de discurso e consumo. Para uma prática anarquista e, mais amplamente, de esquerda, reconhecer as diferenças e dissidências serve para entendermos, em coletivo, como coexistir sem reproduzir opressão. 

Ou seja, temos de procurar estar juntes, e não em pedacinhos. =)

Na esperança de superar a pandemia e a onda fascista que torna a vida da população LGBTQIA+ ainda mais dramática, resgatamos aqui no blog o vídeo da companheira Maite Amaya. Ela fala da sua luta para existir como mulher trans dentro do movimento feminista e da força que resultou do processo. Maite Amaya faleceu em 2017 e é parte da recente história LGBTQIA+, piqueteira e libertária na Argentina e América Latina. Vamos lembrar de Maite Amaya e dos grupos que, COM MUITO CLOSE, celebram a vida enquanto a defendem todos os dias.

As guei, as bi, as trava e as sapatão, tá tudo organizada pra fazer revolução <3

Links:
Filme Yo, la peor de todas [Youtube] [em espanhol]
Yo, la peor de todas [Wikipedia]
Maite Amaya: el adiós a la guerrera libertaria [Agencia Presentes] [em espanhol]

 

 

Pílulas de História: Antifascismo no mundo e no Brasil

Selo Antifascista
Selo Antifascista com as cores corretas: vermelha e negra
Para quem está se perguntando de onde veio o antifascismo, ou querendo propagar como é desprezível a apropriação “Fascistas Antifascistas“, seguem referências que vão rechear as conversas sobre o tema.

ITÁLIA, 1921: A primeira organização antifascista militante a resistir aos esquadrões de Mussolini foi a “Arditi del Popolo”, fundada em Roma pelo anarquista Argo Secondari no final de junho de 1921, congregando não apenas militantes anarquistas, mas também comunistas, republicanos e socialistas de outras vertentes.

ALEMANHA, 1929: Na Alemanha pré-ascensão de Hitler ao poder, foi fundada uma tropa de ação direta anarquista chamada “Schwarze Scharen” (Rebanho Preto, ou Tropas Pretas, nome dado devido à cor de suas roupas) que tinha por intenção proteger das milícias nazistas as reuniões do sindicato anarcossindicalista União dos Trabalhadores Livres da Alemanha (FAUD) e da Juventude Anarquista. Embora suas fileiras nunca excedessem em geral as centenas, em algumas cidades alemãs eles representavam a principal oposição antifascista durante o período.

ESPANHA, 1936: A Revolução Espanhola, revolução encabeçada pela CNT (Confederação Nacional do Trabalho), um dos maiores sindicatos anarcossindicalistas da História, teve como foco principal combater a ameaça fascista do general Francisco Franco e como finalidade primeira a defesa da Revolução Social e da construção do socialismo libertário. Nas lutas deste período, destacamos também a presença da “Mujeres Libres”, organização de mulheres que teve como uma das principais referências a lutadora e anarquista Lucía Sánchez Saornil.

BRASIL, década de 1930: No Brasil não foi diferente. Na primeira metade da década de 1930, referentes anarquistas da envergadura de Maria Lacerda de Moura, José Oiticica e Edgar Leuenroth, pertencentes tanto ao Centro de Cultura Social de São Paulo (CCS) quanto à Federação Operária de São Paulo (FOSP), construíram algumas das principais organizações de luta contra o Integralismo, como o Comitê Antifascista, em 1933, e tiveram certa participação na trotskista Frente Única Antifascista (FUA), além de forte participação em diversos comícios de rua daquele tempo. Tudo isto culminou na chamada “Batalha da Praça da Sé”, batalha campal que expulsou os integralistas das ruas, também conhecida como “A revoada das galinhas verdes” (a roupa deles era dessa cor), em outubro de 1934, com participação de diversas correntes de esquerda e grande protagonismo libertário, em que pese a presença do sapateiro anarquista João Peres, um dos mais vigorosos combatentes daquela jornada. Já durante o período da chamada Aliança Nacional Libertadora (ANL), em 1935, os libertários aderiram criticamente à entidade, pois mesmo concordando com suas pautas de luta social contra o latifúndio, contra o imperialismo e contra o fascismo, discordavam profundamente de certo culto à personalidade assim como da própria defesa explícita de reconstrução social através do aparelho do Estado presentes no interior do órgão. Em tempo: o Estado sempre foi encarado pelos anarquistas como um aparelho burocrático de dominação e violência de classe.

Referências

BRAY, Mark. Antifa: o manual antifascista. São Paulo: Autonomia Literária, 2017.

RODRIGUES, André. Bandeiras negras contra camisas verdes: anarquismo e antifascismo nos jornais A Plebe e A Lanterna (1932-1935). Tempos Históricos, Paraná, v. 21, p. 74-106, 2o Semestre de 2017.